Ao término de mais um ano sem chuvas regulares, o homem do campo continua sofrendo com os problemas decorrentes da seca. Aliada à falta de políticas públicas eficazes no combate aos efeitos da estiagem, a escassez de água priva o agricultor das condições necessárias para prover um sustento digno à sua família, castiga os animais e extingue o roçado. Em alguns casos, falta até mesmo água apropriada para o consumo humano. Quando não já possibilidades de comprar, o jeito é tentar sobreviver com o que se tem.
No Assentamento Olga Benário, o principal meio de obtenção de água é um poço existente entre os seis grupos da comunidade rural.
A agricultora Ana Karina Maria Soares da Silva, que mora no local, diz que para contar com o líquido os moradores se dirigem ao poço com suas carroças e enchem seus reservatórios.
Alguns, como o agricultor Cristino de Oliveira, chegam a fazer cinco viagens ao local por dia, duas para abastecer sua casa e três para saciar a sede dos animais.
Ele conta que uma vez por mês um carro-pipa vai à comunidade rural e abastece uma cisterna de cada grupo do assentamento com água potável. Porém, quando é feita a divisão entre as famílias desses grupos cada uma delas fica com 20 litros de água. Quando a água para beber acaba algumas pessoas se deslocam até o Assentamento Arisco que, segundo ele, fica a cerca de 3 km do Olga Benário. Para completar as necessidades, Cristino de Oliveira precisa comprar água. "Quem compra água não tem água. Eu sou um que compra R$ 80,00 por 10 mil litros e não dá para um mês", afirma.
Até porque, como informa Ana Karina Silva, a água do poço não é apropriada para todas as necessidades. "É salobra. Aí a gente pega para aguar planta, para o banho. Para o consumo a gente compra", explica.
E quem mesmo com o sacrifício não tem como comprar água potável acaba tendo que ingerir o líquido salobro. É o caso da moradora do último grupo do assentamento, Fátima de Oliveira. "Eu levo água daqui para beber, para cozinhar. O feijão eu não cozinho não, mas a gente bebe daqui, que não tem outro jeito", desabafa.
A rotina é árdua. Sem carroça e nem cavalo para transportar o líquido, a moradora que vive com os três filhos, de 12, 6 e 4 anos, vai com os meninos até o poço diariamente. No local mesmo dá banho nas crianças para que na volta possa levar a água que será utilizada para as demais necessidades da família. "Eu carrego na cabeça, esperando que apareça dinheiro para comprar. É difícil, é caro. São R$ 100,00, eu não posso", diz ela.
Devido à falta de informações sobre o "Garantia Safra", Fátima de Oliveira conta que não teve acesso ao seguro e que espera receber, pelo menos, R$ 200,00. "Para ver se compro alguma coisa", anseia.
Sem chuvas, também não há como produzir. "Quando chove a gente planta nesses cercadinhos, mas quando não chove...", reflete a moradora. Sobre o alimento que precisa colocar na mesa, ela prefere não falar e, em silêncio, volta o olhar para o vazio.
Com tamanhas dificuldades, plantar é algo que, por enquanto, está apenas na lembrança e na vontade de quem depende da agricultura. Em mais de 80 anos de vida, Cristino de Oliveira não lembra de outra seca tão cruel. "Nasci em 32, foi um ano de seca, mas eu nunca vi uma seca ruim que nem essa", diz ele.
Na esperança de uma colheita mínima, ele menciona que os moradores da zona rural chegaram a plantar um pouco, mas lembra que não houve água para fazer o plantio prosperar. Com a situação em que se encontra o assentamento, criar animais também se tornou uma tarefa difícil. "Nós aqui não temos condições de criar nem galinha, porque não tem água", lamenta.
Mas o agricultor é ciente de que todos esses problemas não são apenas decorrentes da falta de chuvas. "E vou contar uma coisa, a pior seca quem faz são os políticos", constata.
Ele afirma que desde o período em que era acampado até hoje são oito anos morando no Olga Benário. Na época em que chegou havia três poços, mas quando os agricultores entraram no local o antigo proprietário retirou as bombas dos poços que agora estão sem funcionar.
Fonte: Gazeta do Oeste