Uma verdadeira via-sacra. Assim pode ser definido o percurso que os pacientes com câncer em Mossoró precisam percorrer do diagnóstico até a realização de exames e cirurgias através do Sistema Único de Saúde (SUS). Para se submeter, por exemplo, a procedimentos como tomografias computadorizadas, os usuários devem aguardar de seis meses a um ano, prazo que pode comprometer seriamente o tratamento contra a doença.
"Quando recebe o diagnóstico, o paciente fica meio perdido, logo depois vem a demora, principalmente nos exames. Há muitas pessoas na fila de espera. Ninguém pode esperar de seis meses a um ano para começar o tratamento. Vemos situações de pacientes fazendo cotas, rifas, pedindo empréstimo sem ter como pagar para fazer exames particulares", destaca Léa Amorin, assistente social do Centro de Oncologia e Hematologia de Mossoró (COHM), acrescentando que procedimentos como o PET Scan, que detecta precocemente a presença de tumores ou novos focos da doença, estão suspensos na cidade.
A demora na realização de exames indispensáveis para o início do tratamento fez com que familiares da senhora Maria Ilda, acometida de um câncer no fígado, buscassem atendimento da rede particular de saúde, apesar das dificuldades financeiras. "Tudo é muito difícil, não conseguimos vagas para fazer os exames logo e ela não pode esperar, por isso a opção pela rede particular", relata a dona de casa Ivanilde Nunes, acompanhante de Maria Ilda, paciente que precisa se submeter a uma tomografia de abdômen e tórax, com urgência.
Vencidos os obstáculos iniciais, é hora de se deparar com mais um empecilho: a medicação. "No papel, o SUS é o melhor plano de saúde que existe, mas na prática a realidade é outra. Pacientes precisam gastar com exames, com medicamentos de alto custo, que são receitados, mas muitas vezes não há cobertura no Sistema Único de Saúde", afirma Léa Amorin, que chega a atender 50 pessoas por dia no COHM, lidando diretamente com as dificuldades relatadas pelos portadores da doença.
Além dos exames e medicação, os pacientes também encontram dificuldades na realização de cirurgias, muitas vezes suspensas devido a entraves burocráticos e financeiros entre a Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM) e o Centro de Oncologia. "Hoje, cirurgias estão sendo negadas, devido ao teto (quantidade limite de procedimentos pagos pelo município). O paciente vai à Central de Regulação e é negada a cirurgia, pois o teto já foi atingido", comenta Léa Amorin.
O descolamento de pacientes oriundos de outros municípios também é preocupação constante. Apesar de garantido pela legislação, o transporte nem sempre é disponibilizado pelos gestores locais. "Quando não há tratamento no seu município de residência, a Secretaria de Saúde tem que se responsabilizar pela locomoção desse paciente, mas acontece que essas pessoas não conseguem o transporte, pacientes que fazem quimioterapia uma vez por semana, a cada 15 dias, têm que custear do próprio bolso essa passagem", revela a assistente social.
OMS diz que casos de câncer devem aumentar 50% nos próximos 20 anos
Relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o número de casos de câncer em todo o mundo deve duplicar nos próximos 20 anos. A estimativa é que a quantidade de novos casos pule de 14 milhões atualmente para 22 milhões em 2030.
Segundo o balanço da OMS, devido ao crescimento e envelhecimento da população, os países em desenvolvimento são desproporcionalmente afetados pelo número crescente de cânceres. Mais de 60% da carga global da doença está na África, Ásia, América Central e do Sul, onde 70% das mortes por câncer ocorrem.
A Organização Mundial da Saúde alerta ainda que metade de todos os cânceres poderia ser evitada, se as medidas de prevenção já conhecidas fossem usadas de forma mais eficaz. As principais causas de tumores no mundo são infecções virais, como o papilomavírus (HPV), hepatite C ou Epstein Barr, e hábitos de vida, como o uso do tabaco e a obesidade.
Fonte: Jornal O Mossoroense
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